Poesias
VISÃO ALCOÓLICA
Roberto Ribeiro De Luca
atravessar
de barco,
pela manhã,
o olhal da ponte,
o olhador
olhiagudo
que
vive a
olhar
tudo
com
olhar agudo,
penetrante,
a disparar
olhadas
e
olhadelas
contra
todos os lugares,
passa
os olhos
pela paisagem
em redor,
mastigando
um pedaço
de queijo
olhento,
e quase
não
crê
quando,
numa
rápida
olhadura,
num instante,
vê
o cavalo olhalvo,
de olhos vivos
entre pelos brancos,
olhibranco,
parado,
à beira-rio,
tomado por
mau-olhado
perdido no ar,
saído de
olhos de secar pimenteira,
olhando,
feito olheiro,
para
a vaca cega,
olhuda,
cujos
olhos grandes e tristes,
de vaca laçada,
olham
sem ver
e procuram,
debalde,
o boi
caolho,
olhimanco,
que possui estranhas
olheiras,
olheirado,
nunca
olha nada,
apenas muge,
chamando
alguns olhares.
O barqueiro
olhador,
olhirridente,
também olhitouro,
impregnado
de sonolência,
já querendo
pregar olho,
por isso
olheirento,
eleva
à boca,
mais uma vez,
a garrafa
retirada
do sujo
bornal de pano,
traga
pelo gargalo,
de olhos
fechados,
o resto generoso
da aguardente fiel,
sorri,
e voga
rumo ao cais.