Poesias
SOBRE UM CONTO DE LÍDIA JORGE
Roberto Ribeiro De Luca
Ai, Jesus, enviastes-me um preposto,
um enleio. Vossos olhos luzidios
eu os notei...Sim, eu creio. Foi por gosto
vosso a cruz que me impôs os calafrios.
Trazendo suores ao casamento,
meu nome gritastes ao vento estivo.
Constante às dores do Mandamento,
cumpri justa regra: “Em vós eu vivo.”
Cientes de ter dois lados a lei,
conselheiros pugnaram a eito.
Proclamaram alvitres que eu sei
concediam-me o mais pleno direito.
Mulher que fui para bem vos honrar,
aos soalheiros não quis dar ouvidos.
Malvados! Queriam nos separar:
“Seres colados, jamais desunidos!”
Ainda mulher para vos agradar,
a vós me ofertei qual leve corola.
E tão sério, entortando o andar,
não vistes sequer fugaz camisola.
Logo, Jesus, quero aqui recordar-vos
a dedicação que a vós dispensei.
Quero justiça, estou entre os parvos.
Destes-me um fim que não esquecerei:
(Junto ao hálito da noite embriagante,
alhada que vos levastes à cama,
triscastes-me o vosso corpo-diamante
para vela, isqueiro, calor imenso
mudarem-me o destino neste drama:
Não mais esposa, mas cinzas, incenso...)